“Estou me guardando para quando o carnaval chegar” e a vida de quem trabalha na Capital do jeans

O filme aborda a história de diversos trabalhadores de Toritama e sua espera pelo carnaval

Estou me guardando para quando o carnaval chegar - Fotos: Reprodução

O documentário do ano de 2019, dirigido por Marcelo Gomes, "Estou me guardando para quando o carnaval chegar", aborda sobre a vida dos trabalhadores da pequena cidade Toritama, no Agreste de Pernambuco, popularmente conhecida como a Capital do Jeans. A obra é uma ótima sugestão para assistir e refletir este fim de semana sobre o quanto trabalhamos. No caso deles, apenas esperando “o carnaval chegar”.

Diariamente são feitos milhares de jeans em Toritama, sejam nas fábricas ou nas facções (fábricas de “fundo de quintal”). Atualmente, a maioria das casas se tornaram facções e são poucas as pessoas da cidade que não trabalham no ramo do jeans. “A paisagem mudou, nos grandes terrenos vazios se produziram fábricas de produção de jeans.”

O filme é fantástico e no decorrer dele são contadas diversas histórias baste cativantes. A maneira como o narrador brinca com as câmeras, as palavras e o som torna tudo ainda mais especial. Até os barulhos dão um maior peso a história.

Os personagens em sua maioria são gravados antes mesmo de que a entrevista realmente comece, por conta disso podemos ver as mais genuínas reações diante das câmeras. Através do documentário entendemos um pouco da realidade desses trabalhadores que trabalham incansavelmente, pois “quanto mais trabalham, mais ganham” e trabalham diariamente por horas e horas e ao final do dia já estão “mortos de cansados”.

Apesar de tanto trabalharem, a maioria deles são cheios de sonhos, sonhos mostrados ao decorrer de uma imagem em câmera lenta, a qual achei bastante interessante. Aviso: a partir de agora, o texto pode conter alguns spoilers.

A história de Léo

“Mas, rapaz, pegaram eu dormindo, foi?”, foi a fala de Léo, um dos mais emblemáticos personagens da obra. A fala por trazer a princípio um julgamento de que ele era preguiçoso, mas a verdade é que ele estava cansado de tanto trabalhar. Somos introduzidos à história dele, que começou a trabalhar aos 13 anos cortando cana.

Mas para frente vemos que Léo trabalha com diversas coisas, no jeans, na construção, como servente de pedreiro e cortando pé de fruta, coisa que ele não gosta, pois “não há dinheiro no mundo que pague um pé de fruta”.

O título 

A época do carnaval é a única época, além do fim de ano, em que esses trabalhadores param para descansar com suas famílias. A cidade fica vazia e, antes que chegue o carnaval, eles se preparam, vendem suas coisas para arrecadar dinheiro e poder ir à praia, em sua maioria o único divertimento que podem ter durante todo o ano.

Essa parte do documentário, me trouxe uma sensação de agonia, pois as pessoas ficam desesperadas para vender seus bens e poder sair dali e viajar. Uma geladeira foi vendida por duzentos reais, um preço tão baixo.

Porém, entendemos que carnaval é um dos poucos momentos em que podem verdadeiramente descansar e aproveitar a companhia dos seus. Desacelerar, ver o mar, coisa que não é possível no dia a dia com a correria das fábricas e facções, poder olhar para o céu. Como o idoso apresentado que era “A única pessoa em Toritama com tempo de olhar para o céu”.

Final feliz

Léo tinha uma cinquentinha que queria vender para pular o carnaval com o dinheiro, mas não conseguiu. Fiquei muito triste por ele não ter conseguido, mas o diretor fez um acordo com ele, o diretor pagaria a viagem e Léo filmaria, foi o que aconteceu, e pudemos ver a felicidade dele por poder passar esse tempo com sua família. Algo que para alguns pode parecer simples e corriqueiro, mas para ele foi algo muito além.

Quando acaba o carnaval, eles se preparam e esperam o próximo para poderem vivenciar mais momentos de descanso e alegria com suas famílias.

Assista ao Documentário:

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