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Acordo de R$ 1,2 bilhão expõe governo de Alagoas a críticas e revolta de movimentos sociais
Crítico e sem participação das vítimas, entendimento com a Braskem é acusado de favorecer a gestão estadual e ignorar famílias ainda afetadas pelo maior desastre socioambiental urbano do país
O acordo de R$ 1,2 bilhão firmado entre o Governo de Alagoas e a Braskem, anunciado na última terça-feira (11/11), tem provocado forte reação negativa entre movimentos sociais e famílias atingidas pelo desastre causado pela extração de sal-gema em Maceió. Apesar de apresentado pelo governo como um avanço, o entendimento é visto por lideranças populares como um gesto político calculado e distante da realidade vivida pelos milhares de moradores que perderam casas, memórias e saúde.
O pacote financeiro — que será pago em dez anos e já teve R$ 139 milhões depositados pela empresa — põe fim à ação que o Estado movia contra a petroquímica. Para movimentos de atingidos, essa decisão revela a disposição do governo em priorizar o caixa público, e não a reparação integral das vítimas. A coordenadora do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Neirevane Nunes, classificou o acordo como “um grande investimento eleitoral”, chamando atenção para o fato de que nenhuma família foi ouvida durante as negociações.
Críticas também se concentram na narrativa utilizada pelo governo e pela empresa, que insistem em tratar o caso como “evento geológico”. Para o MAM/AL, essa é uma tentativa de suavizar responsabilidades e afastar o caráter criminoso de um desastre que já desabrigou cerca de 60 mil pessoas e destruiu cinco bairros inteiros da capital alagoana. A entidade afirma que uma matriz de danos deveria ter sido elaborada antes de qualquer assinatura, garantindo diagnóstico preciso e participativo.
Enquanto o Estado se beneficia da compensação, moradores de regiões ainda afetadas — como Flexais, Quebradas, Marquês de Abrantes, Vila Saem e Bom Parto — seguem convivendo com rachaduras, adoecimento emocional e insegurança. Segundo o movimento, a falta de reparação adequada e a ausência de políticas públicas eficazes configuram uma “necropolítica institucional”, que abandona as comunidades à própria sorte.
A revolta também ressurge diante do histórico do desastre. Desde as primeiras rachaduras em 2018, passando pelo colapso da mina 18, em 2023, até o reconhecimento formal de culpa da Braskem no Senado em 2024, as famílias atingidas acumulam perdas irreparáveis. Muitas seguem judicializando suas indenizações, enquanto o Estado — agora beneficiado por um acordo bilionário — ainda não apresenta medidas concretas para assegurar justiça e reconstrução social.
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