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Brasil tem ao menos 550 laboratórios de cocaína em operação; Alagoas registra 14, aponta estudo

Relatório “Floresta em Pó” revela expansão do refino e adulteração da droga no país, com ganhos bilionários e ligação com crimes ambientais e financeiros

Brasil tem ao menos 550 laboratórios de cocaína em operação - Fotos: Arquivo/SSP-SP

Uma reportagem da Folhapress, divulgada nesta quinta-feira (30/10), revelou que o Brasil manteve em funcionamento, desde 2019 até julho deste ano, ao menos 550 laboratórios de processamento de cocaína. Desse total, 14 estão localizados em Alagoas. Os dados fazem parte da publicação "Floresta em Pó", organizada pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e pela Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition.

Os laboratórios, segundo o estudo, atuam em diferentes etapas da cadeia produtiva — do refino à “engorda” da droga, processo em que substâncias são adicionadas para aumentar o volume e o lucro no varejo. A atividade teria movimentado mais de R$ 30 bilhões apenas com o refino, contribuindo para o faturamento estimado de US$ 65,7 bilhões do mercado da cocaína no país em 2024.

De acordo com os pesquisadores, a ausência de dados oficiais confiáveis dificulta a fiscalização e o combate a essas estruturas. As informações foram cruzadas a partir de operações policiais, relatórios públicos e reportagens, identificando que Goiás lidera o ranking, com 125 laboratórios. Em seguida aparecem Amazonas (42), São Paulo (37), Minas Gerais (34) e Mato Grosso (29).

O estudo aponta ainda que o refino da droga ganhou força no Brasil após 2016, quando o desmonte das Farc na Colômbia deslocou parte da cadeia produtiva para países vizinhos. Essas estruturas, explica o pesquisador Daniel Edler, do Instituto Fogo Cruzado, são facilmente adaptáveis e o fechamento de um laboratório causa pouco impacto real ao crime organizado, que rapidamente reestrutura suas operações.

Além do narcotráfico, o relatório relaciona o dinheiro da cocaína à lavagem de recursos em atividades como garimpo ilegal, pecuária e grilagem de terras. O documento defende maior integração entre órgãos como Receita Federal, Coaf, Ibama e Funai para rastrear o fluxo financeiro do tráfico e reduzir seu poder de sustentação econômica no país.