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Idosa deixou bilhete culpando Braskem antes de falecer: "cada vez mais depressiva"

Maria de Jesus Souza expressou sua angústia em meio ao isolamento e à luta pela realocação dos moradores dos Flexais

Dona Pureza e bilhete deixado por ela - Fotos: Reprodução/Montagem O Alagoano

Maria de Jesus Souza, de 63 anos, conhecida como Dona Pureza, escreveu um bilhete antes de falecer. O recado, datado de quarta-feira (30/10), foi encontrado ao seu lado, onde a idosa revelou estar cada vez mais depressiva e desiludida com a situação provocada pelos "benefícios" da Braskem.

"Cada vez que eu vejo os benefícios da Braskem, a minha desilusão aumenta. Estou cada vez mais depressiva em saber que vou ficar nesse isolamento para sempre", dizia o bilhete escrito à mão por Dona Pureza.

Em conversas anteriores, a idosa havia expressado sua insatisfação ao coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva, Defensor Público Ricardo Melro. Ela relatou estar "sem chão" diante do sofrimento que vivia. "Eu vou ficar enterrada aqui para sempre", lamentou.

“Na verdade, eu fico olhando tudo isso e, ao invés de ficar contente, satisfeita e feliz, me dá uma desilusão, porque tudo isso que a Braskem está fazendo me desilude mais ainda. É como se eu ficasse sem chão. Eu vou ficar enterrada aqui para sempre”, desabafou ao defensor público.

Essas falas reforçam a suspeita de que ela possa ter cometido suicídio em decorrência do sofrimento. Segundo vizinhos, ela teria envenenado o gato, a filha e, em seguida, a si mesma. Os relatos indicam que a idosa estava depressiva devido ao isolamento causado pelos prejuízos trazidos pela Braskem.

“A gente vive numa espécie de ditadura. A gente quer viver uma vida digna lá fora, mas a Justiça obriga a gente a permanecer nesse local, isolados”, afirmou Sassá Domingos, uma das lideranças dos Flexais.

A maioria dos moradores dos Flexais defende a realocação, citando dificuldades de locomoção, acesso ao transporte, problemas com o comércio e questões estruturais nas residências. No entanto, a Braskem, a Prefeitura de Maceió, o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública da União sustentam a requalificação dos Flexais.

A Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DP/AL) ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal, solicitando a realocação dos moradores para um lugar seguro. Segundo o coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva, Defensor Público Ricardo Melro, cinco relatórios técnicos apontam para a necessidade urgente de realocação.