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Acesso à internet cresce de 13% para 85% em 20 anos, mas desigualdades persistem no Brasil

TIC Domicílios destaca que, apesar do avanço significativo, 29 milhões de brasileiros ainda não têm conexão

9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet - Fotos: Ricardo Matsukawa

Na última quinta-feira (31/10), foi lançada a TIC Domicílios, uma pesquisa que comemora 20 anos de monitoramento da conectividade no Brasil. Realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), a pesquisa oferece um panorama abrangente sobre como o acesso à Internet evoluiu no país desde seu início em 2005, quando apenas 13% das residências urbanas tinham conexão à rede. Em contraste, os dados de 2024 mostram que essa proporção subiu para 85%.

Os números revelam não apenas um aumento no número de domicílios conectados, mas também uma mudança no perfil dos usuários. Se em 2005 apenas 24% da população urbana utilizava a Internet, em 2024 esse percentual saltou para 86%, o que representa cerca de 141 milhões de pessoas que acessaram a rede nos três meses anteriores à pesquisa. Considerando o conceito ampliado de usuários, que inclui aqueles que se conectaram através de atividades online em celulares, esse número sobe para 90%.

Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br, destaca a importância desses dados, que mostram uma transformação marcante na forma como os brasileiros acessam a Internet. “Em 2008 usuários se conectavam à rede mais em lan houses ou ‘Internet cafés’ do que em seus domicílios, e esse acesso era feito por meio de um computador. Atualmente, quase todos se conectam de seus domicílios e a partir de um smartphone”, observa.

No entanto, o estudo também revela disparidades preocupantes. Enquanto 100% das residências da classe A têm acesso à Internet, essa porcentagem cai para 68% entre as classes DE. Nas áreas urbanas, 85% dos lares estão conectados, enquanto nas áreas rurais esse número é de 74%. Além disso, 29 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à Internet, sendo 24 milhões deles residindo em áreas urbanas.

Outro aspecto analisado é a qualidade do acesso. De acordo com o Cetic.br, apenas 22% da população brasileira com 10 anos ou mais possui condições satisfatórias de conectividade, considerando fatores como custo e velocidade da conexão. A desigualdade é evidente: 73% dos indivíduos da classe A têm acesso adequado, enquanto apenas 3% dos que pertencem às classes DE conseguem o mesmo.

Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), elogiou a pesquisa. “O trabalho realizado pelo Cetic.br é de grande relevância para o acompanhamento da trajetória da inclusão digital no Brasil. São 20 anos de produção de indicadores por meio de metodologias robustas e confiáveis, que têm sido fundamentais para ajudar subsidiar políticas públicas de enfrentamento às desigualdades digitais no país”, afirmou.

Em relação ao perfil de uso da Internet, a nova edição da TIC Domicílios, apresentada durante a 10ª Semana de Inovação em Brasília, mostrou que o acesso via televisão, que antes era inferior ao do computador, agora é utilizado por 60% da população, superando o uso do PC, que representa 40%. Essa mudança reflete uma adaptação aos novos dispositivos disponíveis e à evolução das plataformas digitais.

Entre os usuários de celular, mais da metade (57%) opta por planos pré-pagos, enquanto 20% têm planos pós-pagos e 18% utilizam planos de controle. O estudo também constatou que 73% dos que acessam a Internet pelo celular o fazem tanto por Wi-Fi quanto pela rede móvel.

As habilidades digitais, no entanto, ainda são desiguais. A pesquisa mostrou que 80% dos usuários com Ensino Superior tentam verificar a veracidade das informações encontradas online, em comparação com apenas 31% entre aqueles que possuem Ensino Fundamental. De modo geral, 52% dos usuários praticam essa verificação, mas a diferença entre os níveis de escolaridade é um indicativo das lacunas que ainda precisam ser preenchidas.

“Apesar dos avanços em direção à universalização do acesso à Internet no Brasil, os dados da TIC Domicílios também mostram que a qualidade desse acesso ainda é desigual, o que tem impacto sobre o aproveitamento das oportunidades online por diferentes parcelas da população”, afirma Barbosa.

Para conferir a lista completa de indicadores, acesse: https://cetic.br/pt/pesquisa/domicilios/.

O Cetic.br disponibiliza, ainda, os microdados do estudo para download, além das tabelas completas de proporções, totais e respectivas margens de erro em: https://cetic.br/pt/pesquisa/domicilios/microdados/.

*Com informações da NIC.br