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Bacellar, preso pela PF, era até meses atrás o nome apoiado por Bolsonaro ao governo do Rio
Rompido com o clã Bolsonaro e em conflito com o governador Cláudio Castro, presidente da Alerj vivia turbulência política antes de ser detido por suspeita de vazar operações contra o crime organizado
Antes de ser preso nesta quarta-feira (3/12), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), era tratado nos bastidores como a principal aposta da direita fluminense para disputar o governo do estado em 2026 — e com o apoio direto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A costura política, que ganhou força em maio de 2025, previa uma chapa alinhada ao bolsonarismo: Bacellar concorreria ao Palácio Guanabara, Bolsonaro indicaria o candidato a vice e o PL ficaria com as duas vagas ao Senado. O acordo vinha sendo celebrado como um movimento para manter o controle da direita sobre o Rio, reforçado ainda pelo apoio do governador Cláudio Castro.
Mas o pacto ruiu poucos meses depois. Em julho, ao assumir interinamente o governo durante uma viagem de Castro ao exterior, Bacellar exonerou o então secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB) — político próximo do bolsonarismo e apontado como possível candidato do grupo ao governo, caso consiga reverter sua inelegibilidade.
A decisão provocou um abalo imediato. O clã Bolsonaro se afastou, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a exigir publicamente a reversão da demissão. Sem resposta, passou a colocar em dúvida o apoio à candidatura de Bacellar em 2026.
O desgaste também atingiu a relação com o governador Cláudio Castro. Nos bastidores, Castro reclamou de ter sido surpreendido pela exoneração e acusou Bacellar de agir sem consulta. Ao retornar ao Rio, tentou renomear Reis, mas acabou pressionado pelo presidente da Alerj, que teria ameaçado abrir um processo de impeachment caso o governador recuasse.
Entre rupturas, disputas por espaço e divergências com antigos aliados, Bacellar viu seu projeto político estremecer — semanas antes de ser alvo de uma operação que reconfigura o cenário no estado.
Prisão e investigação
Rodrigo Bacellar foi preso nesta quarta-feira (3/12) durante uma ação da Polícia Federal que apura o vazamento de informações sigilosas de uma das maiores investigações contra o crime organizado no Rio. A prisão faz parte da Operação Unha e Carne, que mira agentes públicos suspeitos de colaborar com lideranças do Comando Vermelho.
A PF afirma que Bacellar repassou detalhes internos da Operação Zargun, deflagrada em setembro, que desmontou um esquema de tráfico internacional de armas e drogas, lavagem de dinheiro e corrupção de servidores. O vazamento teria beneficiado alvos da facção e prejudicado o avanço das apurações.
A ação, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, também determinou mandados de busca, apreensão e outras medidas cautelares no âmbito da ADPF 635, que reforçou o papel da PF no combate a organizações criminosas violentas no estado.
A própria Operação Zargun já havia atingido nomes centrais do Comando Vermelho, entre eles:
• Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, tesoureiro da facção, responsável por movimentar R$ 120 milhões em cinco anos;
• Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, uma das principais lideranças do CV;
• Alessandro Pitombeira Carracena, ex-subsecretário estadual, suspeito de interferir em ações policiais a pedido de criminosos;
• Thiego Raimundo dos Santos Silva, o deputado TH Joias, acusado de articular interesses da facção na Alerj e facilitar compras de fuzis, drogas e equipamentos;
• Policiais militares e um delegado federal investigados por oferecer proteção e dados privilegiados ao grupo.
Agora, os investigadores tentam esclarecer o alcance da suposta interferência de Bacellar e avaliar se o vazamento comprometeu o curso de etapas decisivas da operação.
Com a prisão do presidente da Alerj, a pressão se intensifica sobre redes políticas e institucionais que, segundo a PF, ofereceriam sustentação ao crime organizado no estado — e o cenário eleitoral de 2026 é sacudido mais uma vez.
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