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Vereadores temem hostilização durante celebrações do Dia da Consciência Negra

Proposta de remover o nome de Zumbi dos Palmares do prédio da prefeitura causou revolta em União dos Palmares

Câmara Municipal de União dos Palmares - Fotos: Bruno Santos/O Alagoano

Um clima de tensão e receio toma conta dos vereadores de União dos Palmares, dias antes das celebrações do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. O temor de serem hostilizados durante as atividades festivas surge após a polêmica gerada por uma indicação aprovada pela Câmara Municipal que propõe mudar o nome do prédio da prefeitura, removendo a referência a Zumbi dos Palmares.

A iniciativa partiu dos vereadores Alan Elvis, Ricardo Praxedes e Gustavo Pedroza. Eles propuseram que o "Palácio Zumbi dos Palmares" passasse a se chamar "Palácio Antônio Gomes de Barros", homenageando uma figura local. A indicação, segundo os parlamentares, teve apoio unânime do legislativo municipal, mas desencadeou uma enxurrada de críticas de movimentos culturais, entidades negras e políticos de expressão, como o deputado federal Paulão (PT-AL).

O momento que surge a proposta, bem no mês dedicado à reflexão sobre a igualdade racial, foi amplamente criticado. "Pegou bem no mês da consciência negra, retirar o nome do maior líder negro do único prédio público que leva seu nome no município", ironizou uma nota de um coletivo cultural.

A situação coloca os vereadores sob os holofotes em uma cidade que é epicentro histórico da luta negra no Brasil. União dos Palmares abriga a Serra da Barriga, local onde existiu o Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro símbolo de resistência à escravidão nas Américas. Zumbi, seu último líder, é a figura central das celebrações do 20 de novembro.

O deputado Paulão, em suas redes sociais, classificou a proposta como "um desserviço à história" e "um ataque à memória de Zumbi". A pressão social fez com que alguns vereadores começassem a buscar justificativas para o voto, temendo a reação popular.

Procurados, os autores da indicação evitaram comentar sobre o receio de hostilização, mas reafirmaram que a proposta visa homenagear outra personalidade histórica e não apagar a figura de Zumbi. Entretanto, a justificativa não acalmou os ânimos.

Especialistas em história e cultura negra veem a movimentação como um profundo desrespeito. "Em uma cidade que é referência mundial como símbolo da resistência negra, retirar o nome de Zumbi do principal palácio público é mais do que uma mudança administrativa; é um apagamento simbólico violento", analisa uma pesquisadora que preferiu não se identificar.

Com as comemorações se aproximando, que tradicionalmente atraem milhares de pessoas para a Serra da Barriga e para o centro da cidade, a expectativa é de que os vereadores envolvidos na proposta sejam alvo de protestos durante os eventos. O receio de vaias, protestos verbais e constrangimentos públicos é palpável entre os legisladores, que agora enfrentam as consequências de uma decisão tomada no plenário, mas que ecoou de forma intensa na sociedade.